cover
Tocando Agora:

The Town sem perrengues? Como o festival pode melhorar experiência do público em sua 2ª edição

Show sem perrengue? Especialistas revelam estratégias que podem melhorar megaeventos A primeira edição do The Town, em 2023, enfrentou críticas pela estrutu...

The Town sem perrengues? Como o festival pode melhorar experiência do público em sua 2ª edição
The Town sem perrengues? Como o festival pode melhorar experiência do público em sua 2ª edição (Foto: Reprodução)

Show sem perrengue? Especialistas revelam estratégias que podem melhorar megaeventos A primeira edição do The Town, em 2023, enfrentou críticas pela estrutura e localização dos palcos. Fãs reclamaram da dificuldade de ir e vir de um espaço para outro do evento, e muitos passaram por apertos e perrengues no deslocamento. Naquele ano, Roberta Medina, vice-presidente do festival, disse ao g1 que o deslocamento era o "calcanhar de Aquiles" do festival. No primeiro fim de semana, houve problema na entrada de fãs no autódromo. A circulação de pessoas quando os portões se abriam, no entanto, melhorou a partir do segundo fim de semana. O g1 quis saber mais detalhes sobre a preparação do The Town para esta segunda edição, mas não teve respostas até a última atualização desta reportagem. O problema das multidões não é exclusivo ao festival, claro, e a estreia do evento sempre está propensa a ter mais problemas que as edições seguintes. Por isso, resgatamos entrevistas com Roberta Medina e profissionais internacionais, que trabalham com megaeventos, para explicar como a experiência do público pode melhorar no The Town 2025. Veja abaixo. Infográfico mostra como facilitar o fluxo de pessoas em grandes eventos Editoria de arte/g1 Planejamento integrado “Um bom planejamento é aquele que as pessoas realmente não percebem. Você não quer que o transporte ou a segurança sejam a manchete”, conta a americana Kaitlin Coari. Ela é especialista em cidades-sede de grandes eventos na empresa Arup (responsável por Olimpíadas, Copas do Mundo e mais). Para ela, um evento – de qualquer tamanho – deve ser pensado como uma jornada completa, do trajeto de uma pessoa ao sair de casa, até o local do evento, e depois o caminho de volta. Esse planejamento inclui acesso ao local, entrada, uso do espaço interno e saída. “Precisa haver um planejamento realmente proativo e um verdadeiro programa de prontidão em torno de diferentes cenários”, explica Kaitlin. Isso deve começar o quanto antes, o que pode ser de anos a meses dependendo do evento. Já tem data marcada e principais atrações confirmadas? Agora, é preciso reunir as principais entidades responsáveis pela organização. Isso inclui não só a produção do evento, como instituições de segurança, transporte, e até o comércio local. A partir disso, eles levam em consideração as variáveis envolvidas. Katy Perry se apresenta no Rock in Rio 2024 Stephanie Rodrigues/g1 Kaitlin aponta que as edições anteriores do evento (ou similares) sempre são levados em conta – mas é preciso trabalhar com tudo que pode mudar em termos de público e comportamento. "Cada evento é único em muitos aspectos. Seja o local em si ou o tipo de público que comparece, os artistas, os fãs ou de quem quer que seja que os receba. Então, todos esses perfis diferentes precisam ser levados em consideração." Em um evento como o The Town, o perfil do público pode mudar drasticamente a cada dia – entre o público de rock, pop e trap, há diferenças no comportamento, tempo gasto no evento, idade e até consumo de álcool. Tudo isso influencia. Veja quanta cerveja consome o público de pop, rock e country Entradas e saídas Em um festival ou megashow que tem venda de ingressos, é mais fácil prever a lotação do evento. Mas é preciso calcular o fluxo de pessoas ao longo do dia e garantir que, caso lote antes do esperado, o evento consiga atender o público. Em 2023, Roberta Medina disse que a organização percebeu um comportamento diferente, em termos de horário, entre o público do Rock in Rio e do The Town. "O público de São Paulo chega bem cedo. A gente viu que algumas pessoas já não lembravam do horário às 2 da tarde e então a galera chegou às 10 da manhã e o portão só abre às 2. Ficou 4 horas na fila. Mas não é um problema de fila, é porque chegou muito cedo. A gente já aprendeu que a festa em São Paulo tem que começar mais cedo, porque no Rio a galera chega a partir do meio-dia". Além disso, no auge do evento – próximo à apresentação do headliner, por exemplo –, é claro que vai ter fila. O jeito, então, é garantir que as pessoas fiquem o menos estressadas possível, e que a movimentação seja organizada. O inglês Brett Little, especializado em movimentação de pessoas em grandes eventos, conta que há soluções pensadas para cada tipo de aglomeração -- você pode, por exemplo, informar o tempo de espera na fila, o que já acontece em parques temáticos. Isso ajuda o público a se organizar e reduz a frustração. Ele relata que filas mais longas (tipo zigue-zague) podem ser eficazes. Parece contraditório, mas a maior parte das pessoas prefere andar devagar ao longo de um grande caminho do que ficar paradas em uma pequena fila. "Movimento dá a sensação de progresso", diz Brett. Outra solução pode ser alocar outras atrações e "distrações" após o artista principal, como um DJ ou ativação de marca. Mas no caso do primeiro The Town, eram as ativações que complicavam a passagem. "O que a gente já pôde fazer é: como a gente tem uma via de saída de emergência atrás, o que a gente tem feito pontualmente, ao longo do dia, é na hora termina o show no Skyline, abre essa via, escoa o pessoal que quer passear para o resto do parque, fecha a via e tira aquela pressão. Definitivamente, é nosso calcanhar de Aquiles", disse Roberta ao g1 em 2023. Imagem simula novo palco do The Town Divulgação Além disso, desta vez, o festival terá uma novidade: o The Tower, palco especial com DJs cuja programação começa após o show do headliner. Isso pode ajudar a dispersar a multidão sem que todos saiam de uma vez. O público também pode ser encaminhado para saídas mais longas ou alternativas para reduzir a pressão nos acessos principais. "Então eles têm que andar para chegar lá porque, novamente, isso só desacelera a multidão, desacelera tudo, controla tudo." “O que você não quer é que todos que estão dentro do show de repente fiquem do lado de fora da estação e fiquem ali esperando porque ninguém está feliz". Transporte, segurança e sinalização Os profissionais afirmam que informar é essencial: antes (nas redes sociais e em pontos de informação) e durante o evento (com sinalização clara). É preciso também levar em conta o perfil do público e a forma que ele se comunica: em eventos com muitos gringos, como a Copa do Mundo, placas com sinais visuais podem ser mais eficazes do que escrever os comandos em inglês. Kaitlin aponta que é "crítico" ter uma equipe informada e de prontidão em campo, o que inclui ajuda voluntária, funcionários ou seguranças. Também é papel do organizador apontar a melhor forma de ir embora, e garantir que isso seja bem comunicado. O The Town oferece ônibus executivo, trem expresso e ônibus expresso, e o metrô e trem funcionam 24h nos dias do evento. Fãs aguardam segundo show de Bruno Mars no The Town 2023 Luiz Gabriel Franco/g1 Para Brett, pode fazer sentido direcionar o público para várias estações, mesmo que algumas sejam mais distantes. "É necessário calcular quanto do público cada estação pode abarcar. Se uma estação só comporta 20% do público, é necessário direcionar os outros 80% para outras opções. Às vezes é mais lógico enviá-las um pouco mais longe”. O The Town 2025 terá essa vantagem: além da estação Autódromo, neste ano, a estação Cidade Dutra (desativada há mais de 30 anos) será reativada temporariamente para ampliar o acesso ao festival. A estação fica a 500 metros do portão G do autódromo e vai operar exclusivamente para embarque e desembarque do Trem Expresso The Town a partir de uma estrutura provisória. De toda forma, será preciso se preocupar com aglomerações e filas em todas as estações. "Há maneiras de alongar a fila de tal forma que talvez seja um pouco irritante no momento para o cliente. Mas, na verdade, isso ajuda no estado mental deles, no fluxo e na segurança deles no trem ou ônibus ou qualquer outra coisa, contanto que você mantenha a fila andando", diz Kaitlin. "Então, você nunca quer que essas filas parem, porque é aí que as pessoas ficam meio inquietas e começam a ficar um pouco preocupadas com a segurança, meio que empurrando e aglomerando".